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Sou jornalista, com registro profissional desde 1995, e professor de História, com mestrado, desde 1986.
Sou graduado em Brasília (DF), onde vivi a maior parte da minha vida. No Acre, vivi de 1993 a março de 2009, atuando como professor em diversas instituições de ensimo médio e superior e na maioria dos veículos de comunicação, exercendo as funções de locutor, apresentador, repórter e chefe de redação. Atualmente resido em Catalão (GO), minha terra natal, e trabalho como jornalista free lancer.
Este blog foi criado preferencialmente para minhas elocubrações jornalísticas e literárias, sobretudo, as crônicas, estilo que aprecio e que vejo como forma concreta de manifestar, como diria o pensador Ortega Y Gasset, o meu eu, minha circunstância e meu tempo.

O mal feito aqui pode repercutir lá, e vice-versa

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Catástrofes: castigo Divino, mero acaso da natureza ou obra do homem? Geralmente, durante as viradas dos séculos surgem especulações sobre essas coisas e a respeito do fim do mundo. De fato, nessas ocasiões, a humanidade sempre se imbuiu de um sentimento místico em busca de explicações sobrenaturais para o que se considera inexplicável.
Recentemente passamos por essa transição de século. Como das vezes anteriores, o homem voltou-se a dar atenção ao seu lado místico, de magia, recorrendo aos búzios, tarot, mandalas e outros meios de “desvendar” o futuro. Seria um jogo de sorte ou azar? Nesta semana, assistimos, bestializados, a tromba d´água que caiu em Santa Catarina. Vimos a fúria da natureza que devastou parte significativa daquele Estado.
Sabemos que as catástrofes surgem a qualquer momento e em lugares considerados até inatingíveis. Até o século XVIII e mesmo depois dele, prevaleceu a idéia segundo a qual esses acontecimentos são castigos de Deus. Foi o filósofo iluminista Voltaire que começou a desmistificar essa hipótese. A propósito, é célebre sua citação sobre a existência de Deus, quando disse: “Não posso imaginar um relógio sem o relojoeiro”. Não desdizendo a existência de uma Força Superior, Voltaire creditava ao poder humano a grande força que pode mover o mundo.
E é assim. A força do homem pode modificar o meio em que vive. O homem constrói hidrelétricas capazes de produzir energia que, por sua vez, é transformada em bem-estar e conforto para a humanidade. Esta é uma modificação positiva. Ocorre que, o mesmo homem que constrói também destrói, prejudicando a natureza, devastando, ocasionando mudanças climáticas. Talvez o que tenha acontecido em Santa Catarina possa ser mero acaso da natureza. Ou talvez seja uma resposta da natureza ao mal que o homem está lhe causando.
Em nosso Estado mesmo, e na Amazônia em geral, estamos presenciando algo semelhante, estamos vendo a insensatez humana prevalecer. Em plena Reserva Extrativista Chico Mendes, a primeira a ser implantada no país, a mata está dando lugar a pastagens de bois. De alguma forma, a devastação repercute não apenas na região, mas provoca alterações climáticas que atingem também outros lugares, próximos ou distantes.
As ações do homem que são prejudiciais à natureza podem e devem ser refreadas. Ainda há tempo. Devemos coibi-las para o bem das futuras gerações e para que essas catástrofes não se voltem contra nós, no futuro ou agora.

Chico Mendes, uma história de luta e glória em defesa da Amazônia

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Chico Mendes, uma história de luta e glória em defesa da Amazônia

Cleber Borges

Nestes 28 dias que antecedem 22 de dezembro, o fatídico dia em que o líder sindical e ambientalista Chico Mendes foi assassinado a mando do fazendeiro Darli Alves, que em nome dos devastadores da selva amazônica não o queriam como empecilho, Ilzamar Gadelha Bezerra Mendes (43), a viúva, e Elenira Mendes (24), filha de Chico Mendes, aproveitaram um intervalo de trabalho no escritório de Rio Branco do Instituto Chico Mendes para relembrar os ricos, mas curtos momentos de convivência familiar que, ao lado do filho caçula Sandino Mendes (22), tiveram com a maior “lenda” da história acreana.
Ilzamar deixou a direção da Fundação Chico Mendes, em Xapuri, para ajudar a filha a “fechar” a vasta programação de atividades que a Fundação, o Instituto, o Comitê, os governos Federal, estadual e municipal, ong´s e outras instituições nacionais e estrangeiras irão promover, nos próximos dias, em homenagem ao ambientalista.
Dentre os eventos programados consta a realização de uma sessão do Ministério da Justiça, em Rio Branco, para julgamento da anistia póstuma do sindicalista. Também há previsão de que o presidente Lula faça um pronunciamento em cadeia nacional, direito de Xapuri, no mesmo horário do assassinato de Chico Mendes. Se não for possível, esse pronunciamento deverá ser feito diretamente de Brasília.

Além de ambientalista, Chico também se mostrou um educador
Ilzamar começou narrando a história de sua pobre infância no seringal Santa Fé, colocação Morada Nova, distante cerca de 50 km da sede do município de Xapuri, local onde ela e sete irmãos nasceram e foram criados. Ela conta que, até 18 anos atrás, antes de transformarem o seringal em fazenda, a família dela ainda morava naquela localidade, onde, aos 6 anos, conheceu Chico Mendes.
Segundo a viúva, Chico foi trabalhar com os pais dela, Joaquim Moacir Bezerra e Luiza Gadelha Bezerra, na condição de meeiro. Além das virtudes de homem combativo e envolvido com as questões ambientais, ela conta que o ex-marido tinha uma virtude a mais, pouca difundida: era preocupado com a escolarização de quem vivia na mata, sobretudo das crianças.
Todas as vezes que ia para as “estradas” de seringa, Chico deixava uma lição para ela e os irmãos estudarem. Quando ele voltava no fim do dia, cobrava a tarefa. A intenção, segundo Ilzamar, não era só ensinar a ler, mas a fazer contas. Ele acreditava que, assim, os patrões não iriam roubar no peso e nem no preço da borracha. “O ensinamento já vinha imbuído de política, de defesa do meio ambiente, de direito de igualdade a todos. Tudo isto ele já trouxe de berço”, diz.
Chico debatia a questão da exploração do homem pelo homem desde adolescente. Na época, ele discutia com o pai de Ilzamar a idéia de fundar um sindicato. Decidido a fazer isso, depois de se tornar vereador eleito pelo PMDB e cumprir o mandato, ele foi para Brasiléia, onde se juntou com Ilson Pinheiro para ajudá-lo nos conflitos de terras que havia naquele município fronteiriço. Depois de ajudar a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ele continuou em Brasiléia por dois anos.
Na volta à Xapuri, ele continuou no trabalho de politização das comunidades. Insuflado por Chico Mendes, Joaquim Moacir entrou em rota de colisão com o seringalista Guilherme Lopes, dono do seringal Santa Fé, onde eles moravam. Depois de tomarem consciência de que estava sendo vilipendiado, o pai de Ilzamar começou a vender a produção de borracha a outros seringalistas. Ele queria acabar com a eterna relação de dependência que havia entre patrão e empregado. Queria parar de vender a produção e continuar devendo. No instante em que passou receber melhor remuneração pelo que produzia, começou a sobrar dinheiro. “Só depois disso é que minha mãe pôde comprar um remédio, uma sandalinha”, diz Ilzamar, lembrando da infância pobre que teve.
Projeto Poronga foi criado por Chico Mendes
Quando Chico Mendes volta à Xapuri, Ilzamar já havia completado 15 anos, vinte a menos que ele. Apesar de terem convido durante anos, o romance entre os dois começou a partir desse momento, segundo ela, com rápidos e lânguidos olhares. Percebendo a aproximação diferenciada, Luiza Gadelha – a mãe – não dava trégua. Essa situação, segundo Ilzamar, durou cerca de um ano e meio até que Chico resolveu “pedir a mão da moça” para namorar.
Eles se casaram em 1980, quando ela tinha 17 anos. A cerimônia no civil aconteceu em Brasiléia. Logo depois, eles foram morar em Xapuri, na casa de um primo de Chico Mendes. “Casei por amor. Apesar de ser, na época, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ele não tinha nenhuma condição”, conta a ex-mulher do presidente do Sindicato mais forte do Estado do Acre.
Apesar da fragilidade da estrutura, a entidade mostrava força pelo número de filiados. Ilzamar conta que, para juntar os quatro mil associados, a assembléia tinha que ser realizada no salão paroquial. Chico fundou e dirigiu o sindicato até 1988, ano em que foi assassinado.
No período em que permaneceu como dirigente do sindicato, Chico Mendes obteve grandes conquistas. Sob orientação dele, a entidade criou o CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros), o CTA (Centro dos Trabalhadores da Amazônia), algumas cooperativas e, apesar do pouco apoio das autoridades constituídas, ajudou também a fundar várias escolas e 18 postos de saúde no perímetro urbano e rural.
O projeto Poronga de alfabetização de jovens e adultos, que hoje apresenta excelentes resultados, também foi criação de Chico Mendes. “Quando conseguia realizar alguma coisa em benefício das comunidades, os olhos do Chico chegavam a brilhar”, diz Ilzamar. Assim como o ex-governador Jorge Viana lamentou o fato de Chico não ter vivido para presenciar o êxito da Frente Popular, Ilzamar também lastima o fato dele não ter assistido a criação das reservas extrativistas, um sonho que ele acalentava há anos. Ironicamente, a primeira delas surgiu exatamente em 1988, no ano de sua morte. A reserva Chico Mendes possui mais de um milhão de hectares. “A maioria das autoridades, tanto federal como estaduais, era contra a idéia naquela época. Depois que o Chico perdeu a vida, quase todos apareceram apoiando a idéia que, finalmente, foi concretizada através de decreto”, critica a viúva.

Tempo para a família era reduzido, mas intenso
Chico Mendes tinha pouco tempo para a família, mas, segundo a viúva, era extremamente dedicado. Ela afirma que ele vivia se justificando, dizendo que não fazia mais porque tinha uma missão na vida, que era o trabalho em prol dos menos favorecidos. “Sete dias antes de morrer, ele disse que aquele seria o último aniversário que a família passaria junta. Então eu disse: por que você não abandona tudo? Temos que criar nossos filhos. Ele disse: tenho uma missão importante para nossos filhos e toda uma geração”.
Ilzamar diz também que, na época, tinha consciência do quanto ela era politizada, mas, mais do que isso, tinha o compromisso de ser uma grande mulher ao lado de uma liderança nata que era seu marido. “Com o Chico tive momentos bons e momentos difíceis. Era comigo que ele desabafava, era para mim que ele contava a pressão que sofria. Vi e convivi com tudo isso que aconteceu”, diz.
Ela conta que, depois da morte do marido, além da ajuda que a instituição internacional Ashoca havia concedido a ele por ter conseguido destaque como empreendedor ambiental, a família só veio receber apoio em 2000, no segundo ano do mandato do ex-governador Jorge Viana. Através de convênio firmado com a Fundação Chico Mendes, o Estado concedeu uma bolsa de estudos para os filhos Elenira e Sandino Mendes.

22 de dezembro, o dia do assassinato
Às vésperas de morrer, Chico Mendes já era um homem público, reconhecido e com muitos compromissos no Acre, fora do Estado e do país. A mulher dele conta que, de forma inexplicável, no dia da morte dele, parecia que havia uma premonição. “Foi o dia em que ele se dedicou inteiramente à família”, diz ela.
A mulher conta que ele acordou cedo naquele dia, tomou café, pegou os filhos, os colocou dentro de um caminhão novo que havia comprado e foi passear pela cidade. O primeiro local que decidiu parar foi na sede do Sindicato. Depois, ele voltou várias vezes em casa. “Ele chegou cedo para almoçar. Ele mesmo colocou comida para a Elenira e almoçou com o Sandino. Depois, antes de estender um pano e deitar no assoalho, ele teve uma conversa com minha filha que marcou muito, para sempre”, diz.
Chico perguntou para a filhinha, de apenas 4 anos: o que você faria se eu morresse? A Elenira começou a chorar. Ilzamar presenciou essa conversa, segundo ela, com a sensação de que tinha pela frente o compromisso de cuidar só da criação e da educação dela e de Sandino.
Depois dessa conversa e do descanso, Chico saiu novamente com as crianças numa peregrinação que denotava mesmo uma despedida. Primeiro, ele fez uma visita ao hospital, conversou com as freiras e, depois, foi à casa do João Garrinha, um amigo dileto. Mais no final da tarde, voltou ao sindicato, se despediu de todo mundo e voltou para casa pela última vez.
Lá, sentou-se à mesa, convidou os dois policiais que faziam a segurança dele para jogar dominó. Por volta das 18h30, Ilzamar interrompeu o jogo, convidando o marido e os militares para jantarem porque ela queria assistir ao último capítulo da novela Vale Tudo. Chico pediu uma toalha, a colocou no ombro dele com o filho caçula nos braços e ameaçou ir em direção ao banheiro, que ficava do lado de fora. Preocupada com o risco de um resfriado, Ilzamar sugeriu que a criança ficasse.
Ela pegou o menino nos braços e voltou em direção ao corredor do quarto quando ouviu o estampido. Naquele momento, a cozinha ficou tomada de fumaça branca. Chico caiu com um tiro no peito. Agachada, Ilzamar retirou a toalha e viu o sangue jorrar pelo corpo do marido. Ele ainda chamou por Elenira tentando lhe repassar alguma mensagem antes do último suspiro.
Os policiais foram destacados para dar proteção ao líder sindicalista porque ele vinha sendo ameaçado de morte pelos fazendeiros da região. Um mês antes, Chico estava sendo protegido pelos colegas do Sindicato. Por determinação do juiz de Xapuri, a metralhadora que estava de posse dos militares foi substituída por um revólver que, segundo foi apurado na época, não funcionava. Passados 20 anos, aliado ao unânime pensamento dos acreanos, Ilzamar acha que os policiais falharam na missão atribuída a eles.

Elenira Mendes ficou com o legado do pai
Questionada se todo esse frisson em torno da celebração dos 20 anos do desaparecimento do líder ambientalista não deve passar e, em breve, cair no esquecimento, de forma taxativa, Elenira Mendes diz que não. Ela afirma que o legado de Chico Mendes agora pertence ao mundo inteiro.
“A discussão sobre as mudanças climáticas, desenvolvimento auto-sustentável sempre irá nos remeter a Chico Mendes. Antes do surgimento dos ambientalistas de plantão, ele já falava disso há mais de 20 anos. É impossível esse legado morrer”, disse ontem Elenira Mendes, presidente do Instituto Chico Mendes, entidade criada com o propósito de dar continuidade ao trabalho do pai dela.
“Esse compromisso eu tenho. Vou continuar o trabalho do meu pai, principalmente, junto aos jovens. Eles são o futuro desta nação. Se a gente conseguir isso, vou fazer uma análise bastante positiva desta nossa luta”, disse.
Ilzamar Gadelha conseguiu o que havia prometido, de forma silenciosa, para Chico Mendes: formar e encaminhar a filha na vida. Além de presidir o Instituto que leva o nome do pai, Elenira Mendes terminou o curso superior de Administração e fez pós-graduação em Gestão de Recursos Ambientais. Em 2009, depois da intensa agenda de trabalho deste ano, ela pretende dar seqüência aos estudos partindo para um mestrado na área de formação e, futuramente, um doutorado.
“Para auxiliar nas questões de aspecto legal também quero fazer o curso de Direito, mas, principalmente, para realizar o sonho que meu pai tinha que era me ver formada nessa área”, diz Elenira Mendes.





Dentre os eventos programados consta a realização de uma sessão especial da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, em Rio Branco, para decidir sobre o processo de anistia do sindicalista. Há também proposta para que o presidente Lula faça um pronunciamento em rede nacional, em Xapuri, no horário que ocorreu o assassinato de Chico Mendes. Se não for possível, esse pronunciamento deverá ser feito de Brasília. Dentre os eventos programados consta a realização de uma sessão especial da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, em Rio Branco, para decidir sobre o processo de anistia de Chico Mendes. Também está previsto um pronunciamento do presidente Lula que deverá ser feito em rede nacional, em Xapuri, no horário que ocorreu o assassinato do sindicalista. Se não for possível, esse pronunciamento deverá ser feito de Brasília

impressões de um viajante

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Como diria o maior escritor da língua portuguesa, Luis de Camões, navegar é preciso. No Renascimento, ele dizia isto como forma de estímulo para que os navegantes descobrissem novos mares. Cá, na minha insignificância, também acredito que navegar, viajar, significa, no mínimo, sair da rotina. Esta semana fiz isto. Saí ontem rumo ao Jordão, na divisa do Peru, município que dista – em linha reta - 451 km de Rio Branco. Viajei numa aeronave Sêneca, bimotor, seis poltronas. A emoção foi grande. Há tempos não viajava num avião pequeno.
Sobrevoar é interessante, principalmente na nossa região. Só a bordo de um avião é possível ver a imensidão da Amazônia. Em 1 hora e 40 minutos de viagem, pelo menos 1 ½ sobrevoamos sobre a selva sem ver nenhuma “picada” ou vestígio do ser humano. De cima, a visão é privilegiada. Do alto, dá pra ver que, depois de mais de 500 anos de descoberto, no Brasil ainda existem regiões totalmente intactas, lugares onde o homem jamais colocou os pés.
Pela janela, só se vê a profusão das tonalidades brancas das nuvens com o azul do céu. Olhando pra baixo, a monotonia da paisagem verde só é quebrada, de vez em quando, com a visão única dos sinuosos rios amazônicos. É curioso pensar que, há quinhentos anos, sem esse recurso fantástico da navegação aérea, os cartógrafos já delineavam, com precisão, os mapas, inclusive o da Amazônia. De cima, dá pra sentir porque a floresta é tão imprescindível para o clima do planeta.
O ziguezaguear dos rios remete a uma outra observação simples, mas exata. Os rios fazem curvas e mais curvas, mas nunca alteram a direção do curso da água. Nunca dão uma guinada de 90 graus. Elas não impedem que as águas dos rios corram sempre em direção ao mar. Na Amazônia, essas curvas não inviabilizam, mas tornam a navegação extremamente dispendiosa e cansativa. Por terra, de Rio Branco a Tarauacá são 381 km. Se a viagem for via fluvial, a distância é de mais de 6 mil quilômetros.
Esta viagem, por outro lado, está sendo muito interessante também porque, através dela, estive nos dois únicos dos 22 municípios acreanos que ainda faltava eu conhecer: Jordão e Santa Rosa do Purus. A bem da verdade não conheci Santa Rosa, mas sobrevoei baixo a pequena cidade, de onde pude perceber que ela não é muito diferente do Jordão, município que ostenta a maior taxa de analfabetismo – 60,7% da população com 15 anos ou mais – e que tem o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país e o menor de toda a região Norte.
Sem se preocupar com dados estatísticos de burocratas de gabinetes, durante a viagem, foi possível perceber que a maioria dos 6,3 mil habitantes do município – 40% de origem indígena – vive feliz, em harmonia com a floresta e com a vida. Essa felicidade em contagiou um pouco.

Filha do indigenista Meirelles denuncia invasão das terras dos índios isolados

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Se Brigitte Bardot não tivesse abandonado os palcos para se tornar uma ferrenha defensora dos animais, seria difícil acreditar que Paula Figueiredo Meirelles, uma mulher tão encantadora quanto a cantora e atriz francesa, tivesse deixado a vida agitada das cidades para tornar-se, há três anos, guardiã de “índios invisíveis”.
Paula Meirelles (32) é indigenista assim como o pai dela, José Carlos dos Reis Meirelles Jr. Ele trabalha há mais de 20 anos na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira e ela no Posto de Vigilância e Fiscalização Foz do rio D´Oro, localizado no município de Jordão, próximo ao Peru e distante – em linha reta – 451 km da capital acreana. Ela trabalha para a Ong CTI (Centro de Trabalho Indigenista) com atuação na Funai (Fundação Nacional do Índio).
Nesta semana, depois de ciceronear durante um mês uma equipe inglesa da revista National Geographic, Paula Meirelles deixou a foz do D´Oro, desceu de voadeira até o município de Jordão pelo rio Tarauacá (8 horas de viagem) para resolver pendências de pagamento de fornecedores, burocracias da Funai e, principalmente, para denunciar, na delegacia local, as constantes invasões que caçadores e pescadores de uma comunidade próxima, e também do Jordão, vêm fazendo à reserva Terra Indígena Alto Rio Tarauacá.
Segundo a indigenista, por serem experientes e profundos conhecedores da região, eles saem do rio D´Oro e entram na igarapé Arara e, de lá, pescam e caçam na reserva dos índios arredios. Por esse mesmo motivo, há dez anos, eles trucidaram o filho de um grande seringalista da região. Paula afirma que foi para vingar a morte de um índio.
A reserva é protegida pela Constituição Federal e pelo artigo 161 do Código Penal. “Eles transgrediram a Lei e, por isso, quero que eles sejam enquadrados”, diz. Na delegacia, o APC José Ribamar Ayres da Silva diz que a indigenista tem que listar os nomes dos suspeitos e não apenas os apelidos, como foram denunciados.
Visivelmente insatisfeita, Paula Meirelles disse que ela e seus três comandados vão continuar na cidade para atender a exigência burocrática da Polícia Civil, mas protesta. “Aqui, quase ninguém é conhecido pelo nome. A polícia bem que poderia dispensar essa formalidade”, diz a guardiã dos índios, em cuja aldeia ela acredita viver entre 500 e 600 pessoas.
No Envira, Meirelles enfrenta outro tipo de problema
Enquanto a filha luta contra caçadores e pescadores no rio D´Oro, no rio Envira, o pai batalha pela proteção da reserva local contra madeireiros peruanos. Na semana passada, José Carlos Meirelles esteve em Lima, Peru, numa tentativa de convencer as autoridades daquele país a ajudarem a combater o contrabando de Mogno na fronteira com o Brasil.
Em abril, o trabalho do sertanista teve repercussão internacional a partir de um sobrevôo que ele fez na reserva onde Paula vive. Na companhia de uma equipe do Governo do Acre, ele foi fazer um estudo da situação dos índios isolados, para saber se, mais uma vez, eles tinham mudado a localização de sua maloca. Eles agem assim sempre que se sentem ameaçados. Diferente de outras nações indígenas, eles nunca se instalam às margens de rios.
Na rasante do avião, alguns índios atiraram flechas. Essa imagem foi captada pelo fotógrafo Gleison Miranda, da Assessoria de Comunicação do Governo do Acre. Depois que foram publicadas nos jornais locais, as imagens foram parar na revista digital Terra Magazine e, de lá, para vários sites, inclusive do exterior.

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