Opinião Opinião Opinião Opinião Opinião Opinião

Sou jornalista, com registro profissional desde 1995, e professor de História, com mestrado, desde 1986.
Sou graduado em Brasília (DF), onde vivi a maior parte da minha vida. No Acre, vivi de 1993 a março de 2009, atuando como professor em diversas instituições de ensimo médio e superior e na maioria dos veículos de comunicação, exercendo as funções de locutor, apresentador, repórter e chefe de redação. Atualmente resido em Catalão (GO), minha terra natal, e trabalho como jornalista free lancer.
Este blog foi criado preferencialmente para minhas elocubrações jornalísticas e literárias, sobretudo, as crônicas, estilo que aprecio e que vejo como forma concreta de manifestar, como diria o pensador Ortega Y Gasset, o meu eu, minha circunstância e meu tempo.

O bar dos xaropes

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Perambulando pelo labirinto da minha consciência, dissertando acerca de temas que afligem a humanidade, subitamente surgiu a vontade de discorrer sobre minhas idiossincrasias, ou melhor, sobre o lugar-comum que freqüento, não sei se, esporádica ou habitualmente: o Bar do Bigode.
O paradoxo é que apesar de meus amigos chama-lo também de “Le moustache”, nem bigode ele ostenta mais. Só sei que o lugar é impar. Parece até que há um certo magnetismo, pelo menos para a macharada que anda por lá.
O point da Travessa Júlio César, na Cerâmica, não remete a nenhum coliseu romano, mas a um pequeno espaço que congrega, eu diria, o mais eclético refúgio dos notívagos acreanos. Lá freqüenta de um tudo! De “adevogados” a jornalistas, de empresários a fazendeiros, de funcionários públicos a intelectuais, de playboys do seringal a professores. Nunca vi um policial naquelas imediações, mas sei que, de vez em quando, aparece na área o “delegado” e um tal de “major”.
O bar do bigode é singular, mas seus freqüentadores ou andam no plural ou no diminutivo. Cê quer ver? É o Manelzinho, Caladinho, Sapatinho...
Lá, como na maioria das tribunas ou consultórios psiquiátricos do mundo, se busca resolver problemas existenciais de cada um e da humanidade. Por isso, o lugar é salutar! Presença feminina? Nem pensar! Só daquelas que são muito bem resolvidas ou têm peito e audácia suficientes para desfilar em frente aquele batalhão.
Mas, quando elas passam, o respeito é tamanho que as mais belas são aplaudidas e, detalhe, de pé! É o supra sumo da reverência! Não diria que é civilidade exacerbada, mas escassez mesmo e idolatria pelo sexo feminino, principalmente depois do terceiro copo.
Lá, a gente discute sexualidade, moralidade, a Lei Seca, a Lei Maria da Penha e, ultimamente, uma tal que foi criada em 1941 e que até hoje continua proibindo venda de bebidas a bêbados. Essa tem sido nosso mote preferido para encher a paciência do Bigode, um verdadeiro lorde que depois das onze esquece a diplomacia e expulsa todos daquela adorável esquina, seja rico, pobre, preto, bonito ou feio.
Aliás, para o Bigode todos são iguais e “xaropes”. É por isso que nós o amamos tanto. Saiba que, para entrar no seleto clube é preciso passar por uma triagem mais apurada que a do Iapen. Mas, se você estiver afinado e disposto a ver o mundo do melhor prisma destas plagas é só tentar. Resta saber se será admitido.
Como diria o professor Bosco, lá você pode viajar por todo o arco-íris ideológico da sociedade cristã-racional civilizada, baseado na lógica cartesiana. Mas, contrapondo-se ao diletantismo do professor, o Adal, outro xarope freqüentador do Bigode, diz que tudo isso não passa de pura “canecagem”.

Fechou a lanchonete que fechava para o almoço

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Praça Plácido de Castro, ou Praça da Revolução (como queira), que estava meio insossa nos últimos tempos com o fim do Casarão, com a transferência da sede da prefeitura e com o fechamento parcial do Mira Shopping, ficou mais triste ainda nesta semana. Desde a última sexta-feira, o local, que num passado recente foi o centro nervoso do centro da cidade, perdeu a Lanchonete Sobral, uma das mais antigas e tradicionais de Rio Branco.
Pra quem não sabe, a lanchonete é aquela localizada no térreo do prédio da antiga prefeitura e que fazia parte do rico folclore acreano de que “prostituta tem orgasmo, taxista dá carona e restaurante fecha para o almoço”. É. É isso mesmo. Ela eventualmente fechava para que o dono, o quase octogenário Zé Aragão, fosse “comer algo diferente” em casa e fosse também curtir sua “siesta”.
Ao lado, na barbearia do Ziza, uma das poucas lembranças vivas do passado, o barbeiro-mor e os “habitués sont desolée”. Eles lamentam o fim do frisson naquela área feito por funcionários, desocupados, munícipes que iam resolver pendências junto à prefeitura e, principalmente, das memoráveis partidas de gamão entre o Zé Aragão e o “turco” Ibrahim Farhat.
Ali se falava de tudo, negociava-se quase de tudo. O lugar era o embrião das articulações políticas das eleições da época e até dos quatros anos seguintes. Todos participavam dos acirrados debates, menos o Zé Aragão que preferia usar suas enormes orelhas apenas como ouvido de mercador. Ele é sisudo, às vezes ríspido, mas, muito verdadeiro e amável. Ajudou muita gente, principalmente aos necessitados e famintos.
Depois de suportar a rotina de quase três décadas no mesmo lugar, ter enfrentado o humor de vários prefeitos e seus puxa-sacos, agora, Zé Aragão vai para casa. Vai para o descanso que todo velho guerreiro merece. Agora ele vai poder jogar seu gamão mais tranqüilo, fazer suas palavras-cruzadas com maior atenção e dedicar mais tempo à família. Para deixá-lo mais feliz, sugiro a quem for visitá-lo que leve um quibe de arroz ou uma saltenha de forno para que ele também possa rememorar seu rico, divertido e turbulento passado que agora se quebra fazendo com que a vida de Zé Aragão tome outro rumo.

Viva a civilidade!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Quando um país vive o “Céu de Brigadeiro” do Estado Democrático de Direito como o Brasil está vivendo agora, as instituições se tornam sólidas e respeitadas. Os novos ordenamentos jurídicos que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vem instituindo com intuito de garantir o respeito às liberdades individuais neste ano eleitoral demonstram o quanto a sociedade brasileira está evoluindo.
As mudanças deixam o país que vivenciou o voto de cabresto na longínqua bruma do passado, apontam para a postura do voto consciente e induz a sociedade a trilhar caminhos diferentes na nova era em que vivemos. Para garantir o funcionamento harmônico do Estado e enquadrar, inclusive as autoridades políticas, o Tribunal baixou normas que estão dando nova roupagem e ar de civilidade às eleições deste ano. Muita baixaria que havia, já não existe mais.
Dentre outras medidas, de forma muito oportuna, a Corte Eleitoral acabou com os showmícios, com as poluentes pinturas nos muros e em camisetas, que serviam para dormir no pós-eleição, mas que beneficiavam somente as campanhas milionárias.
Temos que admitir que essas medidas civilizatórias deixaram a campanha mais tranqüila e o Brasil mais próximo do patamar dos países desenvolvidos, mas temos que ver também que essa tranqüilidade muito se deve ao baixo nível de acirramento que há entre as coligações que estão disputando o pleito. Esse fenômeno se repete em nível nacional e até internacional.
O respeito pelas normas da conduta eleitoral, por outro lado, está deixando a campanha monótona. As acusações continuam, mas, até o momento, os adversários ainda estão mantendo o respeito entre si. A sobriedade num povo de alma latina também cansa. Por isso, acho que militantes que morreram ou se afastaram ainda fazem falta no folclore das eleições acreanas. Falta o Ninja (Zé do Burro), o burro, ou melhor, o jumento do Edvaldo Guedes e a brabeza do Tomé Manteiga com seus eleitores, quando eles o chamavam pelo nome. A campanha ainda está morna, mas, certamente deve esquentar nos próximos dias. Como nos parlamentos ou tribunais, espero que a civilidade prevaleça!

Quem vai limpar o rio Acre e seu afluentes?

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Na semana passada, neste mesmo espaço, falei sobre a fedentina existente no canal que corta transversalmente a Avenida Getúlio Vargas, entre a antiga sede da PGE (Procuradoria Geral do Estado) e a Diocese de Rio Branco, que, de tão insuportável, altera a temperatura ambiente local e afeta, de forma direta e indireta, todos os cinco sentidos de quem mora, trabalha ou passa por lá.
Contrariando a máxima contida na frase de efeito do amigo do meu pai, Zé Laqüera, “A gente tem que gostar do que não presta, pois do que é bom todo mundo gosta”, me indignei mais, através do artigo, pelo fato de nunca ter visto ou ouvido ninguém protestar contra o tal esgoto.
Sem querer ser pretensioso, quando da minha insurgência, eu já tinha uma carta na manga, uma solução para aquele e outros problemas ambientais do nosso município. Estava apenas esperando alguém se manifestar.
Dias antes, participei, no Rio de Janeiro, do lançamento do Programa Petrobrás Ambiental, através do qual, a empresa, uma das maiores do mundo, se dispôs, voluntariamente, a investir, no período 2008/2012, a cifra de R$ 500 milhões em iniciativas que contribuam para a conservação e preservação dos recursos ambientais e à consolidação da consciência socioambiental brasileira.
Com o tema “Água e Clima, contribuições para o desenvolvimento sustentável”, o programa visa apoiar iniciativas capazes de reduzir os riscos de destruição de espécies e habitats aquáticos ameaçados, melhorar a qualidade dos corpos hídricos e contribuir para a fixação de carbono e emissões evitadas de gases causadores do efeito estufa.
Através deste programa, qualquer pessoa jurídica sem fins lucrativos, com atuação no Terceiro Setor, tais como associações, fundações, organizações não-governamentais, OSCIP´s (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) ou organizações sociais podem elaborar projetos, executá-los num período de 12 meses, renováveis por mais 12, e arrancar da Petrobrás até R$ 3,6 milhões, por período.
Divulguei a notícia, mas, até o momento, não vi ninguém se manifestar. Lá no Rio, fiquei pensando que essa oportunidade cairia como uma luva para abnegados e silenciosos defensores do rio Acre como os ambientalistas Claudemir Mesquita e Ibrahim Farhat, o Lhé, que, sem dinheiro e praticamente sem ajuda, vivem retirando balseiros e dejetos do rio.
Pensei também que, apesar de o investimento ser procedente de uma empresa estatal, ele poderia ir para o Terceiro Setor e, finalmente, tirar do Estado a responsabilidade, quase que exclusiva, com o meio ambiente do nosso município. Os projetos de recuperação do rio Acre, de seus afluentes e dos canais que desembocam nesses afluentes podem envolver muita gente e, inclusive, renda para essa gente. Ontem, técnicos da empresa chegaram ao Acre para anunciar, dentre outras novidades, que as inscrições para os projetos estarão abertas até o dia 24, através do site www.petrobras.com.br.

Boca do Inferno

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O amigo do meu pai, Zé Laqüera, no alto da sabedoria de um velho nordestino, costume dizer que “é bom a gente aprender a gostar do que não presta, porque, o que é bom, todos gostam”. Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra e, também por isso, devo concordar com o sábio maranhense.
Penso que, por este princípio – de gostar do que não presta – é que as pessoas têm se acostumado tanto, e sem reclamar, com a fedentina que grassa em vários pontos da cidade. Existem inúmeros esgotos que nos deixam nauseabundo e, invariavelmente, sem apetite. Há o famoso Penicão (lagoa de decantação) do Conjunto Universitário, que depois de cinco anos de desativado bem que poderia estar dormindo como um vulcão; há também o Canal da Maternidade, que exala mau cheiro tanto durante o dia com o sol escaldante como nas noites enluaradas; e há o esgoto da Avenida Getúlio Vargas – entre a antiga Procuradoria do Estado e a boate Saudosa Maloca - que me incomoda particularmente, afinal passo por ele todo santo dia.
Esta minha rotina é antiga. Ao passar pela “boca do inferno” da Getúlio Vargas, para não sentir cheiro de coliformes fecais, enxofre, gás metano e outras imundícies, prendo, o tanto que posso, minha respiração. O fedor é tamanho que até a temperatura local se altera. Sinceramente, não sei como as pessoas que vivem e trabalham nas imediações suportam.
Sempre estranhei o fato de uma obra ter permanecido parada durante mais de 10 anos por ali. Pensei que fosse algum embargo ambiental. Depois de concluída, vi que o prédio erguido próximo à “boca do inferno”, ironicamente, era da Diocese de Rio Branco. Além dos padres e freiras, acho que todos que trabalham e congregam lá são verdadeiros santos.
Ao endossar a frase de efeito do Zé Laqüera, de que devemos acostumar com o que não presta, não quero ser tão radical, afinal, temos que ser flexíveis também. Suportar aquilo, de forma altruísta, é um ato de autocomiseração. Desculpe a imodéstia, mas ainda respiro o ar fresco, serrano e primeiro-mundista de Gramado (RS), onde estive recentemente.
Entendo que fazer saneamento básico na Amazônia, numa região que é uma grande planície, não é nada fácil. Mesmo assim, reconheço que muito se fez nos últimos anos por Rio Branco. Mas, com os recursos da ordem de R$ 400 milhões que o Governo Federal deve liberar até 2010 para as obras do PAC no Acre, acredito ser possível dar fim a este sofrimento não aparente, mas que é bastante sentido pela população.

Powered By Blogger