Opinião Opinião Opinião Opinião Opinião Opinião

Sou jornalista, com registro profissional desde 1995, e professor de História, com mestrado, desde 1986.
Sou graduado em Brasília (DF), onde vivi a maior parte da minha vida. No Acre, vivi de 1993 a março de 2009, atuando como professor em diversas instituições de ensimo médio e superior e na maioria dos veículos de comunicação, exercendo as funções de locutor, apresentador, repórter e chefe de redação. Atualmente resido em Catalão (GO), minha terra natal, e trabalho como jornalista free lancer.
Este blog foi criado preferencialmente para minhas elocubrações jornalísticas e literárias, sobretudo, as crônicas, estilo que aprecio e que vejo como forma concreta de manifestar, como diria o pensador Ortega Y Gasset, o meu eu, minha circunstância e meu tempo.

Uma máquina que eu gosto

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dia desses, sentado à beira de uma estrada, lá no final, onde as duas margens pareciam se encontrar, avistei algo em movimento, levantando poeira que parecia dar continuidade ao caminho, mas, mais volumoso e em outra direção. Pelo barulho em movimento desengonçado, sabia não se tratar de um carro, de um caminhão.

Aquilo me deixou apreensivo e curioso, mas, pouco depois, a “coisa” foi se aproximando, delineando, tomando forma. Pelos faróis suspensos que propagavam dois fachos de luz no meio da poeira, percebi que o objeto não identificado era, na realidade, uma máquina, mais precisamente, uma retro-escavadeira, uma das mais desgraciosas e, ao mesmo tempo, úteis máquinas inventadas pelo homem.

Coincidentemente, para meu deleite, o operador decidiu parar aquela desajeitada coisa num aterro que havia justamente ao meu lado. Como acontece desde menino, fiquei emocionado com a possibilidade de rever aquela máquina trabalhar. Primeiro, ela começou a abrir as sapatas em movimentos lentos e parecidos aos de uma aranha em posição de ataque quando arma suas patas.

De aranha ela pareceu se transformar num dragão enfurecido num momento em que começou acelerar e a soltar fumaça da descarga do teto. Elevada sobre si mesma e com sua principal pinça em operação jogando para ao lado e outro, agora ela lembrava um elefante com a tromba em movimento.

Com a lâmina ou com a pá, ela movia, virava, mexia, sumia com a terra e a fazia desaparecer sobre as caçambas dos caminhões. Em poucos minutos toda a superfície da área foi modificado. Ela, a retro é realmente mágica, fascinante.

Admiro muito o avião, o telefone, dois dos maiores inventos da humanidade, mas, assim como, Sergey, o roqueiro - pansexual - maluco – de - Saquarema adora fazer amor com as árvores, eu também adoro as máquinas, ou melhor, a retro-escavadeira.

Ela não pode ser, até o momento, o mais avançado protótipo da robótica, mas, indiscutivelmente, é um de seus precursores e um dos mais práticos e úteis instrumentos criados pela engenharia mecânica. Sociólogos e antropólogos costumam dizer que nos últimos cem anos a sociedade evoluiu mais que no restante de toda sua existência. Na era contemporânea, ou seja, no período em que as sociedades mais evoluíram, a retro se fez presente.

A economia e a religião são as molas propulsoras da humanidade. Por esses dois fatores, os povos entram em combate, vão à guerra. A retro-escavadeira ajudou na construção de templos, estradas, aquedutos, cidades e até na remarcação de fronteiras entre muitos países. O princípio de funcionamento da sapata da retro inspirou na engenharia dos mísseis antiaéreos, isso significa que ela também esteve na guerra.

A retro-escavadeira contribuiu, portanto, com a economia, a guerra e as religiões de diferentes nações. À retro-escavadeira eu rendo minhas homenagens, que este ano está completando cinqüenta anos de existência. Apesar da idade, a velhinha ainda continua ajudando a revolucionar o mundo.

Homenagem tem que ser na hora certa

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Em Sena Madureira vive frei Paolino Baldassari, a eterna e divina sentinela da floresta que, por seu profícuo trabalho já recebeu título de Doutor Honoris Causa e até indicação para o Prêmio Nobel da Paz. A luta voluntariosa do frei rendeu-lhe reconhecimento regional e nacional, mas, às margens do rio Iaco, também vive um outro sacerdote oriundi de Itália que há 57 anos também vem realizando um trabalho tão importante quanto o do seu irmão da Ordem dos Servos de Maria: Frei Heitor Turrini.
Por ser um intelectual reservado, poucos conhecem o trabalho de Frei Heitor. Juntos, eles têm anunciado o evangelho para os povos da floresta que residem numa área de 57 mil quilômetros quadrados, equivalente a dois estados de Sergipe.
Quando não está desenvolvendo trabalhos sociais nas matas, periferias das vilas e cidades, Frei Heitor Turrini gosta de permanecer na biblioteca do convento onde mora, rebuscando seus compêndios para aprimorar seus conhecimentos em 11 idiomas e para sedimentar, cada vez mais, sua fé cristã.
Fora do convento, ele imprime ritmo acelerado e aventureiro à vida para sobrepor-se às adversidades encontradas na selva amazônica. Apesar da idade (83 anos), o frei ainda pratica esqui, pilota moto e avião. Recentemente, o padre me confessou que já sofreu sete acidentes aéreos. Para ele, o mais triste foi o que aconteceu em Sena no ano de 1971, no qual morreram 33 pessoas. Dentre elas, o bispo Dom Giocondo Maria Grotti, que, na época, tinha apenas 41 anos de idade.
Heitor Turrini falou também sobre o posicionamento firme do papa Bento XVI, de seus diversos encontros com o papa João Paulo II, de suas viagens às Filipinas e a China, inclusive sobre a primeira delas, quando o mandatário era Mão Tse Tung, o grande líder responsável pela implantação da revolução cultural naquele país asiático.
Inspirado em suas reminiscências, o padre lembrou também da juventude na terra natal (Montese/Itália), onde viu brasileiros derrotar alemães durante a segunda Guerra Mundial, atrocidade que, há 63 anos ceifou 45 milhões de vidas. Depois que se radicou no Brasil, frei Heitor voltou algumas vezes à Itália, mas não para tratamento de saúde, como foi há dois meses. Penso que, pelo momento delicado, pelo trabalho altruísta e de dedicação, dirigentes governamentais e cristãos e a sociedade civil como um todo deveriam esquecer, temporariamente, as coroas laureadas do padre Paolino Baldassari e fazer justas homenagens ao frei Heitor Turrini, que dedicou a maior parte de sua vida à Amazônia e, principalmente, ao povo acreano. Ele é um dos homens mais culto, crente, simples e de bom caráter que conheci.

A devastação da Amazônia e do bom senso

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Cleber Borges
A Amazônia é marca mundial que tem semelhança somente com a Coca-Cola. São, sem dúvidas, as duas palavras mais pronunciadas no mundo. Com saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, a Amazônia ficou ainda mais evidência.
Marina representava o verdadeiro compromisso brasileiro de não destruição da Amazônia.
Carlos Minc, o sucessor, por ser uma figura relativamente desconhecida dentre os ambientalista, gerou desconfiança ao ponto de a comunidade internacional mostrar, sem o pudor, o interesse que vinha acaletando há tempos de internacionalizar a Amazônia.
Esse interesse escuso por uma nova geopolítica na região foi abordado, de forma acintosa, pelo jornal americano, The New York Times, e o inglês The Independent, o primeiro questionando de quem é a Amazônia, e o outro afirmando que esta parte do Brasil é muito importante para ser deixada apenas com os brasileiros.
Na internet veicula o site do Mapa do Brasil Visto por Alunos do EUA, que mostra um livro contendo o mapa do Brasil amputado, sem a Amazônia e o Pantanal. Pela informação, o livro estaria ensinando que a região e em volta dela vivem pessoas primitivas, sem inteligência, irresponsáveis e regidas pelo tráfico de drogas. O livro Introdução à Geografia, do autor David Norman, seria utilizado pela Júnior Higsschool.
De forma tímida e unilateral, a sociedade brasileira começa a reagir a essa agressão que, efetivamente, pode estar tomando forma. Não em nome da Nação, mas , como cidadão, na última edição do programa Canal Livre, o general Luiz Gonzaga Lessa falou, de forma consistente, que as acções das ONGs na floresta são o início de uma "invasão branca" e que há risco iminente das nações indígenas se atrelarem à países estrangeiros. "Hoje elas pertencem as Estado brasileiro, mas há uma trama internacional para que se tornem nações indígenas e depois deixem de ser propriedade do Estado". Discursando num clube em São Paulo, o general foi aplaudido, de pé, por mais de 700 pessoas.
Ironicamente, num comercial da Vale da Rio Doce, o saudoso sertanista brasileiro Orlando Vilas-Boas, pouco antes de morrer, já alertava para essa possibilidade.
Eu também presenciei atrocidades cometidas contra a Amazônia. Em 2005, em Itacoatiara (AM), às margens do Rio Amazonas, vi implacáveis motosserras de uma empresa multinacional suíça destruindo pau rosa de 30 metros de altura e máquinas skids com guinchos arrastadores puxando-as e destruindo a média e a pequena vegetação, mas tudo com o "selo verde", com o rótulo de "manejo florestal". Grave também foi ver o imponente porto do empresário e governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, exportando soja, através do Rio Amazonas. Mais grave ainda foi presenciar a usina termoelétgrica fornecendo energia para Itacoatiara,a segunda maior cidade do Amazonas, e sendo alimentada com o resto da madeira de lei que sobrava do tal "manejo". Tudo isso, em nome do "desenvolvimento sustentável". Penso que está havendo a devastação da Amazônia, mas também o bom senso daqueles que querem abocanhar o nosso quinhão.

Tá. E os outros?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Cleber Borges
2008, ano do centenário da imigração japonesa no Brasil. O governo e a sociedade brasileira vêm rendendo justas homenagens ao povo da Terra do Sol Nascente desde o ano passado, quando começaram a antever as comemorações. Eles merecem.
Afinal, fala-se muito da contribuição que índios e negros deram para o fantástico resultado da nossa miscigenação, mas há pouco ou quase nenhum reconhecimento pelo efeito do cruzamento deste nosso povo mestiço com os amarelos do Oriente. O belo e exótico resultado dessa união está estampado no rosto de milhões de nissei e sansei espalhados pelo Brasil afora.
Reverenciar os nipônicos é quase uma obrigação, afinal aonde esse povo chegou a harmonia e a sabedoria, conquistadas ao longo de milênios, também esteve e estão presentes. Eles são bons em tudo que fazem, principalmente quando atuam na informática, comércio, culinária e na agricultura.
Não precisamos ir ao bairro da Liberdade, em São Paulo, para ver o grau de desenvolvimento que os japoneses atingiram. Aqui no Quinari, desde que chegaram na década de 20 do século passado, eles vêm transformando adversidade em prosperidade. O amendoim que cultivam, até então uma leguminosa desconhecida na Amazônia, passou a ser produto de exportação e símbolo da qualidade dos alimentos no Acre.
As celebrações do centenário da imigração, amplamente divulgadas pela mídia, parecem ter aproximado mais o povo brasileiro do japonês, que, por natureza, é fechado. A maioria ignária, já sabe até que o nome do navio que trouxe a primeira leva de 781 pessoas era Kasato Maru, que eles chegaram no dia 17 de junho de 1908, etc. As homenagens estão sendo feitas não apenas pelo fato de o japonês ser bom, mas também por eles serem bem sucedidos, por eles pertencerem a um país que hoje é uma das maiores economias do mundo, enfim, por eles serem ricos. Então questiono: você leitor, sabe qual o nome do primeiro navio negreiro, quando os primeiros africanos escravos chegaram ao Brasil?
Talvez não. Sabemos apenas que coube à Inglaterra, a primazia de ser a vanguardeira do tráfico e do comércio de escravos, começado no reinado da Rainha Elizabeth no século XVI, tendo John Hawkins como o primeiro a empreender o comércio de negros escravos para o Brasil. Por este motivo, na época, ele recebeu o titulo de Baronnet.
A escravização do povo brasileiro começou nesse período pelos ingleses, passou para os portugueses, voltou para as mãos dos ingleses e agora está nas mãos dos norte-americanos, sob a forma de dependência econômica. O ideal seria é não estar sob o jugo de nenhuma potência, mas, se fosse o caso, preferiria estar nas mãos dos japoneses.

Powered By Blogger