terça-feira, 15 de julho de 2008
Dia desses, sentado à beira de uma estrada, lá no final, onde as duas margens pareciam se encontrar, avistei algo em movimento, levantando poeira que parecia dar continuidade ao caminho, mas, mais volumoso e em outra direção. Pelo barulho em movimento desengonçado, sabia não se tratar de um carro, de um caminhão.
Aquilo me deixou apreensivo e curioso, mas, pouco depois, a “coisa” foi se aproximando, delineando, tomando forma. Pelos faróis suspensos que propagavam dois fachos de luz no meio da poeira, percebi que o objeto não identificado era, na realidade, uma máquina, mais precisamente, uma retro-escavadeira, uma das mais desgraciosas e, ao mesmo tempo, úteis máquinas inventadas pelo homem.
Coincidentemente, para meu deleite, o operador decidiu parar aquela desajeitada coisa num aterro que havia justamente ao meu lado. Como acontece desde menino, fiquei emocionado com a possibilidade de rever aquela máquina trabalhar. Primeiro, ela começou a abrir as sapatas em movimentos lentos e parecidos aos de uma aranha em posição de ataque quando arma suas patas.
De aranha ela pareceu se transformar num dragão enfurecido num momento em que começou acelerar e a soltar fumaça da descarga do teto. Elevada sobre si mesma e com sua principal pinça em operação jogando para ao lado e outro, agora ela lembrava um elefante com a tromba em movimento.
Com a lâmina ou com a pá, ela movia, virava, mexia, sumia com a terra e a fazia desaparecer sobre as caçambas dos caminhões. Em poucos minutos toda a superfície da área foi modificado. Ela, a retro é realmente mágica, fascinante.
Admiro muito o avião, o telefone, dois dos maiores inventos da humanidade, mas, assim como, Sergey, o roqueiro - pansexual - maluco – de - Saquarema adora fazer amor com as árvores, eu também adoro as máquinas, ou melhor, a retro-escavadeira.
Ela não pode ser, até o momento, o mais avançado protótipo da robótica, mas, indiscutivelmente, é um de seus precursores e um dos mais práticos e úteis instrumentos criados pela engenharia mecânica. Sociólogos e antropólogos costumam dizer que nos últimos cem anos a sociedade evoluiu mais que no restante de toda sua existência. Na era contemporânea, ou seja, no período em que as sociedades mais evoluíram, a retro se fez presente.
A economia e a religião são as molas propulsoras da humanidade. Por esses dois fatores, os povos entram em combate, vão à guerra. A retro-escavadeira ajudou na construção de templos, estradas, aquedutos, cidades e até na remarcação de fronteiras entre muitos países. O princípio de funcionamento da sapata da retro inspirou na engenharia dos mísseis antiaéreos, isso significa que ela também esteve na guerra.
A retro-escavadeira contribuiu, portanto, com a economia, a guerra e as religiões de diferentes nações. À retro-escavadeira eu rendo minhas homenagens, que este ano está completando cinqüenta anos de existência. Apesar da idade, a velhinha ainda continua ajudando a revolucionar o mundo.